sábado, 3 de dezembro de 2016

Debate #5: Dylan deserves the Nobel (Cátia, Marta N., António)

Após concluir o ensino secundário, Robert Zimmermann ruma a Mineápolis para estudar na universidade. Foi em Mineápolis que Zimmermann entrou pela primeira vez em contacto com a cena folk e literária da época, e também, quando se começou a apresentar como Bob Dylan. “Não tinha tempo para estudar” diz Dylan no seu documentário No Direction Home, decidindo rumar a Nova Iorque em janeiro de 1961, onde viria a absorver o máximo de coisas possíveis, misturá-las, e, no fim, criar a sua própria identidade e estilo musical e literário. Tudo isto vai contribuir para que Dylan crie obras musicais com uma escrita de incrível poder literário. Dylan chegou a Nova Iorque fortemente influenciado pelos livros On the Road de Jack Kerouac e Bound For Glory, escrito pelo seu ídolo Woody Guthrie. Dylan começou a ler poemas de Verlaine e Rimbaud, conheceu e tornou-se amigo pessoal do poeta Allen Ginsberg. Dylan aliou a sua capacidade criativa à poesia, o que resultou em lírica merecedora de objecto de estudo literário.
Talvez os tempos estejam mesmo a mudar, talvez possamos comparar as canções de Dylan às obras de Homero e Safo, que, tal como o músico, escreveram textos poéticos destinados a ser interpretados a maior parte das vezes com acompanhamento de instrumentos. Dylan moldou a poesia às letras de uma canção, sendo que estas podem também sobreviver desligadas do seu contexto musical. Com esta afirmação não queremos dizer que Bob Dylan não é um grande compositor, mas sim, que elevou o conceito de compositor musical a um novo nível de exigência. Para confirmar que os seus poemas sobrevivem sem notas musicais, olhemos para a letra da música “Masters of War”, “You that build the big guns/ You that build the death planes/ You that build all the bombs/ You that hide behind walls/ You that hide behind desks/ I just want you to know/ I can see through your masks. Neste poema encontramos raiva, angústia, ira. Tudo isto sentimentos que Bob Dylan transmite apenas através da sua leitura sem qualquer tipo de música a acompanhar. Além disto, podemos encontrar recursos estilísticos como a anáfora da expressão “You that”, próprios da literatura. Por outro lado, as canções, nas quais estão incluídos os poemas, são extremamente interventivas e convidam o leitor/ouvinte a pensar sobre os problemas que o mundo vive. Tentam transmitir algo, ajudam a uma consciencialização dos conflitos humanos, defendem os ideais humanitários e a liberdade de pensamento.
Apesar de não existirem princípios lógicos definidos para a atribuição do prémio, a Academia Sueca justifica a escolha dizendo que Bob Dylan ganhou ‘por ter criado novas expressões poéticas dentro da grande tradição musical americana.’

É impossível negar o impacto que artistas e escritores musicais como Dylan têm sobre o seu público, no âmbito da tradição musical americana. A verdade é que as músicas de Bob Dylan celebram outras formas de criação literária mais contemporânea, consumidas por uma fatia significativa da população dita Ocidental.No mundo das tecnologias de informação, as sociedades são muito mais permeáveis às criações musicais, fortemente difundidas pela rádio, televisão e internet. Apesar das obras de Saramago ou García Márquez se enquadrarem nos cânones literários convencionais, a verdade é que existe maior probabilidade de ouvir uma música de Bob Dylan na rádio ou em qualquer conteúdo online do que um excerto de O Memorial do Convento. No fundo, talvez a Academia Sueca se esteja a ajustar aos novos tempos, assim como aos novos produtos de massas, que, podendo ou não agradar a especialistas literários, são sem dúvida obras que moldam e caracterizam o mundo globalizado de hoje.


Sem comentários:

Enviar um comentário