segunda-feira, 9 de março de 2015

"The Ghouls" and the Zombies

from. E. A. Poe, "The Bells" (1849)

IV.
Hear the tolling of the bells —
Iron bells!
What a world of solemn thought their monody compels!
In the silence of the night,
How we shiver with affright
At the melancholy menace of their tone!
For every sound that floats
From the rust within their throats
Is a groan.
And the people — ah, the people —
They that dwell up in the steeple,
All alone,
And who, tolling, tolling, tolling,
In that muffled monotone,
Feel a glory in so rolling
On the human heart a stone —
They are neither man nor woman —
They are neither brute nor human —
They are Ghouls: —
And their king it is who tolls: —
And he rolls, rolls, rolls, rolls,
Rolls 


quote in Dawn of the Dead (1978), by George Romero: 'When there's no more room in hell, the dead will walk the earth.'

lyrics from "Thriller" (1983, first MTV world premiere video):

Night creatures callin'
The dead start to walk in their masquerade
There's no escaping the jaws of the alien this time
(They're open wide)
This is the end of your life
They're out to get you
There's demons closing in on every side
They will possess you
Unless you change that number on your dial
Now is the time
For you and I to cuddle close together, yeah
All through the night
I'll save you from the terror on the screen
I'll make you see
 
(...)


The foulest stench is in the air
The funk of forty thousand years
And grizzly ghouls from every tomb
Are closing in to seal your doom
And though you fight to stay alive
Your body starts to shiver
For no mere mortal can resist
The evil of the thriller
Lyrics taken from <a href="http://www.elyrics.net/read/m/michael-jackson-lyrics/thriller-lyrics.html" rel="nofollow">this page</a>
 

 

Fast forward from Edgar A. Poe to Michael Jackson


quarta-feira, 4 de março de 2015

Michael Jackson - Thriller (directed by John Landis, 1983)




Look up the background of the production of this video.

What kind of society is portrayed here?

Do the zombies or the werewolf provide any kind of alternative?

Is there a difference between zombies and undead in this film?

What to you are the most striking lyrics? and images?


segunda-feira, 2 de março de 2015

O Zombie de A a Z (Ana Daniela Coelho e José Duarte)





                               (na foto, marcha Zombie em Bruxelas, 2013)




AApocalipse: O zombie é uma figura que inspira medo e terror, surgindo frequentemente associado a uma visão apocalíptica em que a sociedade, tal como nós a conhecemos, desapareceu e está coberta de cadáveres que, também eles infectados, se levantam e começam a caminhar. Contudo, o zombie nem sempre foi associado a uma expressão reveladora do fim dos dias. 

BBoca: A boca, centro definidor do zombie, funciona como metáfora para o consumo desenfreado da humanidade: o zombie não consegue parar de comer, mostrando como a sociedade contemporânea está marcada pela cultura capitalista. A boca do zombie é, além disso, duplamente fatal: não apenas arma predatória mas também elemento propagador da epidemia. 

CCorpo: Se a boca é locus importante no zombie, o corpo tem também destaque no folclore e na ficção. Por um lado, ao corpo do zombie associa-se, por influência das crenças vudu, a ideia de controlo. O corpo do zombie é, antes de mais, escravo da vontade, quer seja de um outro dominador, quer seja da sua insaciável fome. Por outro lado, a deformação do corpo, que continua a funcionar mesmo quando está (quase) destruído, dá expressão às nossas maiores ansiedades e medos.

DDestruição: Por onde passa, o zombie deixa um rasto de destruição e há pouca hipótese de sobrevivência, uma vez que, de acordo com os parâmetros do cinema – e em particular de Hollywood – o ataque zombie é implacável, mostrando que resta pouco de humano à humanidade que, aqui, se apresenta como uma ameaça a si mesma, num consumo canibalista, deixando-nos à mercê dos nossos instintos mais primitivos.  

EEpidemia: A ideia do zombie como uma doença que se propaga através de dentadas – de novo a boca como um importante elemento – não é herdeira do folclore haitiano ou africano. No entanto, esta ideia de um vírus que se espalha é interessante por mostrar como a estrutura de uma sociedade falha por completo e como os governantes usam e abusam do desconhecido, especialmente a nível das experiências científicas (lembremo-nos de Frankestein de Shelley).

FFamília: Na maior parte das narrativas de zombies a dissolução familiar é um dos temas principais. Por norma, as famílias são sempre separadas ou transformadas em mortos-vivos, uma poderosa metáfora para a impossibilidade da renovação das gerações. Ao mesmo tempo, criam-se outras famílias e erguem-se novas sociedades.

GGeorge Romero: Figura maior do “cinema de zombies” – se é que podemos falar neste género ou sub-género – Romero é responsável por uma nova linguagem na criação do zombie, uma vez que se afasta claramente do folclore de que se tentava aproximar Bela Lugosi em White Zombie (1932). Os anos 60 do séc. XX mostram um novo zombie, fruto de várias influências como o Gótico, as histórias de vampiros ou a Ficção Científica, e símbolo de um novo paradigma que influenciaria obras posteriores. Cf. Night of the Living Dead.  

HHaiti: A mitologia Zombie surge associada às práticas de vudu neste país e relaciona-se em grande parte com a complexa história do Haiti a nível social, cultural e, maioritariamente, político e religioso. O zombie é, neste contexto, resultado de uma amálgama cultural que oscila entre as crenças africanas e cristãs, mas é também uma poderosa metáfora para uma história da escravatura.   

I – Invisível: O zombie é uma ameaça inicialmente invisível, tornada visível com a proliferação desenfreada de cadáveres. Uma figura que mostra como a sociedade e o mundo podem quebrar quando menos esperamos. Os filmes de zombies têm respondido a diferentes eras e períodos, centrando a sua atenção nas contradições, medos e desejos da sociedade e tempo em que actuam. A proliferação do sub-género a partir dos ataques de 11 de Setembro reflecte a paranóia, ansiedade e insegurança face a ameaças desconhecidas, não apenas dos Estados Unidos mas da sociedade contemporânea no geral.

JJogging: O jogging é inútil perante o zombie: inicialmente cadáveres em decadência e lentos, são agora seres implacáveis e imparáveis. Umas das características mais importantes quando fugimos dos zombies  do novo milénio é uma resistência física acima da média – veja-se Zombieland (2009) e as regras de sobrevivência ao apocalipse zombie. Por isso os gordinhos são sempre os primeiros a ser comidos. Para mais informações consultar qualquer um dos inúmeros guias de sobrevivência ao apocalipse zombie disponíveis.

KKarma: Ao contrário dos primeiros filmes de Romero, em que não havia qualquer salvação possível para os vivos, os filmes mais recentes deixam em aberto a hipótese de salvação. Contudo, também na maior parte destas obras, os personagens com um carácter mais violento acabam por morrer às mãos de zombies. Aliás, os filmes de zombies, a par com outros filmes que colocam a hipótese de apocalipse, mostram o lado mais negro da humanidade. Há conflitos entre os sobreviventes porque, mesmo por entre os destroços da civilização, a questão do poder e controlo continua a existir.

LLiteratura: O zombie é um caso curioso, porque é um ser que salta da mitologia e do folclore directamente para o cinema, sem antecedentes literários. No entanto, a figura do zombie – a par da do vampiro – tem sido muito aproveitada para pastiche literários, uma vez que clássicos da literatura inglesa e americana ou figuras importantes dessa mesma cultura são reescritos e interpretados à luz do universo zombie. Exemplos: Pride and Prejudice and Zombies  (2009) de Seth Grahame-Smith ou Abraham Lincoln: Vampire Hunter (2011), também do mesmo autor. A banda desenhada também se tem aproveitado deles com enorme sucesso, especialmente no caso de The Walking Dead de Robert Kirkman, publicada pela primeira vez em 2003, que originou a reconhecida série com o mesmo nome.

MMemória: O cérebro parece ser uma parte importante no zombie, mas apenas e só num lado primitivo – o regresso a todos os princípios – até porque este seres não são propriamente inteligentes, algo que abona a favor dos sobreviventes. No entanto, caso nos transformássemos todos em zombies não restaria qualquer memória humana.

NNight of the Living Dead: Importante filme de 1968 realizado por George Romero que cria uma nova linguagem para o modo de compreender o zombie. A obra do realizador americano reflectia, acima de tudo, sobre uma cultura de consumo incapaz de parar e ser parada, o que revelava uma total descrença na continuidade da sociedade pós-industrial. Cf. George Romero.

OOutro: o outro que somos nós – Unheimlich, aquilo que é estranho e simultaneamente familiar, uma vez que o zombie é a imagem de decadência, de morte, da doença que queremos, a todo o custo, evitar, porque representa o nosso medo natural das coisas. O zombie é o outro de quem temos medo, no qual reconhecemos a nossa própria violência, capacidade de destruição e a morte, mas também é metáfora para outras importantes questões como a escravatura, o modo como algumas nações exploram os outros ou os perigos da ciência.

PPopular: Em 1983, Michael Jackson aparece em “Thriller”, um dos mais bem sucedidos vídeos musicais da história da música, onde dança ao lado de zombies numa espécie de pesadelo. Este vídeo mostra, desde logo, a popularidade que os mortos-vivos estavam a ter, até porque “Thriller” passava na emergente MTV, o canal televisivo que viria a levar a expressão “pop” ao extremo. Nos últimos dez anos, em particular, o zombie tem vindo a ganhar popularidade – cf. Literatura ou Warm Bodies – especialmente graças a um revivalismo por parte do cinema e da televisão. Por sua vez, os novos meios democratizam a experiência zombie – cf. You can make your own zombie – fazendo com que o terror, o medo, o horror entre em nossas casas, tornando-o popular, para além da óbvia máquina publicitária: existem todo o tipo de produtos sobre zombies à venda. Na realidade, o zombie é popular porque, tal como o vampiro, desafia as nossas crenças e explora o nosso estranho prazer associado ao gore, os nossos maiores medos e o estranho apelo que um hipotético mundo pós-humano exerce sobre a nossa consciência colectiva.

QQuestionamento: O aparecimento do zombie no cinema e a sua crescente popularidade fazem dele um das figuras mais importantes para questionar a contemporaneidade, funcionando como elemento revelador do nosso lado mais violento e apresentando verdades terríveis sobre a existência humana. Da mesma forma, o zombie questiona os erros cometidos pelos governos ou por aqueles que, com algum poder, tomam as decisões erradas. Colocando a questão “e se?” é possível perspectivar o que poderá vir a acontecer e tentar evitá-lo. Ou talvez não… 

RRecomeçar: Numa sociedade profundamente desigual, o zombie devolve a igualdade a todos: sem consciência do que são, sem reconhecimento das suas diferenças, este ser nivela as disparidades existentes, criando uma igualdade que é também uma hipótese de recomeço para os que estão vivos. Surgem novas comunidades que podem recomeçar de novo e evitar os erros cometidos anteriormente. Sem nenhuma instituição política para nos governar, o que resta? Como iremos sobreviver?  

SSobrevivência: Em primeiro lugar, interessa sobreviver e o mundo zombie apocalíptico traz à superfície os instintos primitivos da humanidade. De um lado, os mortos-vivos em busca do seu alimento – aqueles que ainda estão vivos – e, do outro, os vivos em busca de cumprir com as suas necessidades básicas, para além de toda e qualquer moral. E o nosso fim começa aí. Cf. Vida.

TThe Walking Dead: Uma das séries sobre zombies mais aclamadas dos últimos tempos. Baseada na banda desenhada criada por Robert Kirkman, The Walking Dead, centra-se em temas como a solidão, a família, a morte, o apocalipse, teorias da conspiração, o horror, mas também a esperança e a possibilidade de um novo mundo que só é possível eliminando (quase) todo o mal. Contudo, a questão permanece: se o vírus já existe dentro de cada um de nós – fazendo assim de cada humano um potencial zombie – o que terá acontecido? Será esta uma experiência científica?

UUrbano: O zombie é, por excelência, um ser urbano, porque é aí que se concentra a maior parte da população e, portanto, mais comida. É também nas grandes metrópoles que encontramos os símbolos de consumo: supermercados, centros comerciais, grandes empresas, indústrias ou bancos; mas também as instituições responsáveis pelas leis que regem a sociedade: governos, tribunais são eliminadas, bem como a tecnologia – essencial para a vivência contemporânea – desaparecem mostrando, por completo, todas as nossas fragilidades. 

VVida: Por oposição à Morte. Zombie é um ser “entre” a vida e a morte e talvez seja impossível recuperar a parte viva do morto-vivo. Em última análise, o zombie reflecte sobre a perda do lado humano, sobre o monstro que outrora foi humano e talvez seja essa uma tragédia maior. Essa monstruosidade não é relativa apenas ao zombie, que partilha algumas características com outros undead, como o vampiro. Cf. Sobrevivência.

W Warm Bodies: Filme lançado em 2013. Apesar de ser um filme que não foi bem aceite pela crítica, é interessante notar que se trata de uma obra que mostra a perspectiva do zombie com algum tipo de consciência básica. Esta ideia implica que o zombie, afinal, não é um ser assim tão primitivo, e, mais do que isso, que a sua humanidade não lhe foi roubada por completo. Longe da solução passar por encontrar um antídoto baseado na ciência para resolver a situação, a narrativa procura um remédio sentimental ao fazer com que um zombie – que aqui são bastante inofensivos – se apaixone por humana e o seu coração volte “literalmente” a bater. Warm Bodies é interessante porque mostra que o género ou sub-género não é estanque e que a figura do zombie está em constante evolução. Veja-se também o exemplo de Fido (2006). 

XXamanismo: A “teoria da morte”, no vudu, defende que o ser humano é composto por um suporte material e dois “princípios espirituais”, que são chamados gros bon ange e petit bon ange. O primeiro assemelha-se à noção de alma do cristianismo e pode ser capturado, permitindo assim o controlo do corpo desprovido de consciência: aquilo que conhecemos como Zombie.
ano du, defende que o corpo
YYou can make your own zombie: São inúmeros os sites e vídeos no Youtube que ensinam técnicas de maquilhagem e formas de desenvolver versões criativas dos zombies. Existem vários fóruns de fãs que discutem os episódios de The Walking Dead e também sites dedicados à experiência zombie e a testemunhos de pessoas que já tiveram contacto com mortos-vivos. No caso da cultura americana – e também em Portugal – chegam, inclusive, a existir zombie walks, encontros “sociais” de zombies, como uma espécie de “flash-mob” dos mortos-vivos, (Cf. Castle, S4E2 – “Undead Again”, 2009). Estes eventos, por vezes, também assumem o formato de confrontos entre zombies e humanos (criando uma realidade alternativa que se aproxima de videojogos como Resident Evil) ou de corridas de obstáculos em que o objectivo principal é evitar ser comido pelos zombies. Todos nós podemos ser zombies, basta querer. Estes jogos e corridas tornam-se populares porque permitem experienciar um cenário apocalíptico e de sobrevivência. Cf. Popular.  

ZZombie: Uma definição de Zombie inclui as seguintes leituras: 1) corpo animado que se alimenta de carne viva; 2) um feitiço vudu que faz viver os mortos; 3) (informal) palavra utilizada para descrever uma pessoa que anda muito devagar ou está pouco consciente da realidade que a rodeia especialmente porque aparenta estar muito cansada. As origens de zombie remontam ao séc. XIX, sendo uma palavra originária da África Ocidental que se aproxima à palavra Kimbundu “nzúmbe”, que significa fantasma. Inicialmente ligado ao vudu e à magia, os zombies contemporâneos – graças a George Romero – tornaram-se parte integrante da cultura popular. Magia, epidemias ou tecnologia podem ser responsáveis pela criação de zombies em cenário apocalíptico, pondo em risco a sobrevivência da humanidade que vê no zombie o seu outro.


Bibliografia Zombie (alguns exemplos):

Bishop, Kyle William. (2010). American Zombie Gothic: The Rise and Fall (and Rise) of the Walking Dead in Popular Culture. Jefferson: MacFarland & Company, Inc.
Boluck, Stephanie & Lenz, Wylie. (eds.) (2011). Generation Zombie: Essays on the Living Dead in Modern Culture. Jefferson: McFarland & Company, Inc.
Brooks, Max. (2004). The Zombie Survival Guide: Complete Protection from the Living Dead. London: Duckworth Publishers.
Christie, Deborah & Lauro, Sarah Juliet. (eds.) (2011). Better off Dead: The Evolution of the Zombie as Post-Human. Bronx: Fordham University Press.
Flint, David. (2009). Zombie Holocaust: How the Living Dead Devoured Pop Culture. London: Plexus Publishing.
Greene, Richard & Mohammed, K. Silem. (eds.) (2008). The Undead and Philosophy: Chicken Soup for the Soulless. Chicago: Open Court Publishing.
Lowder, James. (ed.) (2011). Triumph of the Walking Dead: Robert Kirkman’s Epic on Page and Screen. Dallas: Smart Pop.
Seslick, Dale. (2010). Dr Dale’s Zombie Dictionary: The A-Z Guide to Staying Alive. London: Allison & Busby.

Filmografia Zombie (alguns exemplos)

28 days later, realizado por Danny Boyle, 2002.
28 weeks later, realizado por Juan Carlos Fresnadillo, 2007.
Dawn of the Dead, realizado por George Romero, 1978 (há um remake de Zack Snyder, 2004)
Exit Humanity, realizado por John Geddes, 2011.
Fido, realizado por Andrew Currie, 2006.
I am Legend, realizado por Francis Lawrence, 2007.
Night of the Living Dead, realizado por George Romero, 1968.
Planet Terror, realizado por Robert Rodríguez, 2008.
Resident Evil, realizado por Paul W. S. Anderson, 2002.
Shaun of the Dead, realizado por Edgar Wright, 2004.
The Walking Dead, criado por Frank Darabont, 2010 -.
Warm Bodies, realizado por Jonathan Levine, 2013.
White Zombie, realizado por Victor Halperin, 1932.
World War Z, realizado por Marc Foster, 2013.
Zombieland, realizado por Ruben Fleischer, 2009.