domingo, 10 de fevereiro de 2019

Homework for Feb 13 - The Murders in the Rue Morgue by E. A. Poe

Poe famously said (in the essay "The Philosophy of Composition", 1846) that he wanted to please the general public as well as the critical taste. How does "The Murders in the Rue Morgue" accomplish that?


2 comentários:

  1. O conto "The Murders in the Rue Morgue” possui atributos literários que, talvez possamos dizer, são mais frequentemente encontrados em textos pertencentes à alta cultura do que nos pertencentes às massas. Por exemplo, as referências à literatura clássica (Horácio e Plauto) e a filósofos iluministas (Rousseau). Outro factor interessante é o da sua primeira publicação ter ocorrido numa revista americana chamada Graham's Illustrated Magazine of Literature, Romance, Art, and Fashion, o que sugere alguma elevação de conteúdos, mas ao mesmo tempo uma tentativa de alargar o espectro de leitores.
    Por outro lado, a sua escrita apesar de requintada é acessível, o que aumenta o seu alcance junto das massas. Outra característica importante para a massificação deste conto foi o seu género, que engloba crime, terror e tragédia. Estes eram os temas procurados pelas classes trabalhadora e média que cresciam nos EUA no séc XIX e eram estes os temas oferecidos pela imprensa sensacionalista que crescia proporcionalmente, a Penny Press, que oferecia uma ementa diária de crime, terror e tragédia, precisamente. Penso que o conto de Poe, considerado a primeira Detective Story, surgiu numa altura em que as notícias sensacionalistas que a Penny Press espalhava faziam parte do quotidiano dos leitores, que as discutiam no trabalho, em casa ou com os amigos. A imprensa fazia de cada leitor um detetive e lucrava com a popularidade das suas notícias que se traduzia em vendas. Poe aproveitou esta popularidade de um género que pulava de um medium (jornais) para outro (literatura de ficção) e escreveu um conto que viria a influenciar a literatura subsequente deste género e que deu forma a personagens da cultura popular como Poirot e Sherlock Holmes.
    Outra característica da Penny Press era o tom humorístico e satírico, algo que salta também para o conto de Poe e que podemos encontrar, por exemplo, na forma como a polícia é representada (ou gozada): incapaz de resolver um mistério, alheia ao poder da análise, incompetente. Esta representação da polícia agradaria, julgo, às massas Americanas do séc. XIX.
    O crime, terror e tragédia apelam ao gosto massificado dos leitores, mas Poe confere na sua obra um twist analítico e inteligente, muitas vezes ligado à psicologia ou ao "ler os sinais" por trás das aparências. Ou seja, Poe dá-nos o crime sensacionalista que as massas anseiam para regozijarem com o choque (tal como os crimes retratados nos jornais), mas ao mesmo tempo apela ao olhar mais profundo do leitor que pretende, também, ser desafiado intelectualmente. A fórmula inovadora de Poe que, através de um personagem igualmente brilhante e excêntrico, apresenta um mistério em forma de puzzle com todas as peças à disposição do leitor, tem os elementos necessários para cativar leitores em todos os níveis da sociedade.

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  2. Edgar Allan Poe foi o primeiro autor a escrever de forma deliberada uma "crime fiction" quando este tipo de relato de crimes só se lia em jornais. Foi o seu estilo literário, com uma linguagem típica do estilo gótico da época, mas ao mesmo tempo acessível a todo o tipo de leitor, bem como a introdução do método científico, o raciocínio, ao género literário que lhe deu uma notoriedade que até então não possuía. As histórias até então escritas sobre crimes eram vistas como descartáveis e sem grande riqueza linguísticas, os “penny dreadfull” eram sensacionalistas e os temas eram bastante violentos que alimentavam os medos de quem as lia, “Sweenny Todd, The Demon Barber of Flint Street” é um exemplo deste tipo de histórias.
    Poe vem dar algum realismo a estas histórias e têm também como inspiração crimes reais que chegam aos jornais, “The Mystery of Marie Rogêt” é o primeiro conto baseado em factos reais do assassinato de Mary Cecillia Rogers. Estes contos têm como precedente “The Murders in Rue Morgue” que hoje é vista como o modelo para todas as histórias e autores do género que se seguiram, entre eles Sir Arthur Conan Doyle, G. K. Chesterson e Agatha Cristie. Desta história também resultou o modelo para o detetive egocêntrico que resolve o crime numa “armchair” ou numa divisão isolado. É também o primeiro “locked room mystery”, ou seja, toda a ação se passa num espaço reduzido. Como Doyle teve como inspiração Dupin para criar Sherlock Holmes, também Poe teve uma fonte de inspiração para o seu detetive francês, Zadig de Voltaire. Poe aprimorou Dupin e ainda lhe deu um carácter cómico, um mero detetive como Dupin que descobre a solução do crime antes da própria polícia pode ser encarado como uma crítica por parte do autor à maneira como as investigações eram conduzidas, esta característica foi também adotada por Doyle.
    Estas histórias, por vezes baseadas em crimes reais trouxeram alguns dissabores ao autor que foi visto como suspeito de alguns dos crimes sobre os quais escreveu, o assassinato de Mary Rogers foi um deles. O primeiro autor que fez das suas publicações a única fonte de rendimento, escreveu mistérios que revolucionaram o género literário e o modo como as histórias deste género eram vistas pelo público e críticos, foi ele próprio vítima das histórias que escreveu estando a sua própria morte envolta num mistério que ainda hoje gera especulações.

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